A importância da posturologia no universo osteopático

Escrito por: Nayanne Gisondi de Paula Souza

Segundo Leon Chaitow, a Osteopatia é um sistema de cuidados com a saúde que reconhece que a autocura e a habilidade de autorregular o corpo dependem de um determinado número de fatores, incluindo condições favoráveis do meio ambiente, nutrição adequada e integridade da estrutura. Para Dr. Andrew Still (ano), o osteopata deve ter em mente um objetivo básico quando examina um paciente: descobrir e corrigir aquilo que está estruturalmente incorreto e sempre que possível recuperar a função normal.

O corpo humano é uma unidade integrada que sempre buscará se autorregular através da boa nutrição dos seus tecidos; se isso não ocorrer, teremos assim um segmento facilitado que, através de uma cadeia lesional, poderá gerar sintomas locais e/ou a distância. Essa quebra da homeostase está relacionada com o meio ambiente e é considerada a manifestação final do processo que chamamos de doença. Diante disso, devemos entender que existem lesões de parâmetro maior que são usadas pela Medicina Convencional para determinar o diagnóstico das patologias detectáveis através de exames laboratoriais e radiológicos, e disfunções de parâmetro menor que, para a Osteopatia, é a grande responsável pela formação das patologias de parâmetro maior e que passam despercebidas pelos exames radiológicos e clínicos. Estas disfunções aparecem de duas formas: incapacidade funcional e posição viciosa estática.

As incapacidades funcionais são caracterizadas por alterações musculares (espasmos, hipertonias e hipotonias) do tecido conjuntivo (encurtamento e tensionamento), neurais (compressão, sensibilização e perda de complacência) e articulares (hipo e hipermobilidades), gerando um déficit da nutrição e, consequentemente, dificultando a autocura do corpo. Além disso, existe a posição viciosa estática, que, através do mau funcionamento das entradas sensoriais, favorece que forças anormais contrárias perturbem a estrutura e a função do segmento em sofrimento que poderá atingir todos os níveis, seja ele estrutural, postural, visceral, craniano ou perceptivo.

É fato a grande influência da posição viciosa estática na manutenção da função da estrutura, porém ela ainda é muitas vezes negligenciada por terapeutas clássicos. Sabendo disso, para o tratamento ser bem-sucedido, devemos diagnosticar corretamente a origem das disfunções que causam essas enfermidades. Geralmente, as disfunções osteopáticas são causadas por traumas. Quando não, as entradas sensoriais podem ser as responsáveis por grande parte dessas disfunções e, em virtude da posição viciosa estática, podem levar a cronicidade das lesões. Nesses casos, o tratamento ideal é com a Posturologia que, através do estudo do Sistema Tônico Postural e das entradas sensoriais (pés, olhos, sistema vestibular e visceral), buscará o equilíbrio do corpo.

Segundo Bricot (2010), a Posturologia é um sistema com diferentes entradas sensoriais, que levam múltiplas informações ao Sistema Nervoso Central (SNC) e periférico, com o objetivo de estabilizar o corpo nas condições externa e interna, e permitir movimentos coordenados e estáveis.

Em relação à postura, o mau funcionamento das entradas sensoriais e de alguns obstáculos, são os responsáveis por assimetrias posturais que geram forças anormais contrárias nos tecidos, provocando dores.

Figura 1: Entradas do Sistema Tônico Postural


Quando as informações vindas dos captores são assimétricas, elas trazem consigo uma reação de adaptação que promove um novo ajustamento postural patológico.

Figura 2: Adaptação do corpo e suas repercussões

Fonte: BRICOT, B. Posturologia Clínica. São Paulo: Cies Brasil, 2010.

O Sistema Tônico Postural trata-se de um sistema cibernético com duas características: ele é automantido e autoadaptado, ou seja, se autoadapta em seu desequilíbrio, mas não poderá se corrigir sozinho.

O equilíbrio postural usa informações sensoriais na forma de impulsos proprioceptivos, visuais e vestibulares. Esses impulsos são processados por estruturas neurais que produzem resposta motora organizada, que reflexamente restitui o alinhamento postural. As aferências incoerentes causadas por conflitos sensoriais geram perturbações que levam a um sistema instável, com maior custo energético, postura alterada na gravidade e dificuldade para o aprendizado e para as capacidades cognitivas. Essas perturbações podem acontecer em diferentes níveis e em qualquer tecido: ligamentar, muscular, capsular, cartilagem, articulações, fáscias, entre outros.

Sendo assim, um simples e comum sintoma de dor lombar, principalmente sem um histórico prévio de trauma, faz com que inúmeras vezes o trabalho sobre o sistema musculoesquelético (fáscias, ligamentos, nervos) não seja suficiente para devolver a função e, consequentemente, o alívio dos sintomas, haja vista que um desequilíbrio do sistema tônico-postural pode, por exemplo, desencadear um plano escapular anterior (figura 3), que, por sua vez, tem como característica gerar um sofrimento facetário e discal da coluna lombar.

Figura 3: Consequência de um plano escapular anterior

Fonte: BRICOT, B. Posturologia Clínica. São Paulo: CIES Brasil, 2010.

Dr. Still diz que o corpo é uma unidade, com isso independente do tecido e/ou sintoma do paciente, devemos sempre encontrar as disfunções que somadas ao meio ambiente ocasionaram tais queixas. Podemos concluir então que o sistema tônico-postural é um componente dessa “unidade”. A posição viciosa estática gera no corpo forças anormais contrárias, que favorecem a quebra de homeostase e o processo de formação das doenças, sendo que o sintoma é o produto final de uma série de quebra de homeostase do indivíduo. Estudar a postura (entradas sensoriais) é enxergar e entender todas as estratégias que o seu corpo adotou para buscar o equilíbrio. O terapeuta que não entende a influência da postura viciosa estática no processo de formação das doenças, terá limitações em reestabelecer à saúde do seu paciente em vários casos.

Referências

ASSOCIATION POUR L’ALTERNATIVE EM MÉDECINE – APAM. Posturologie. Disponível em: <http://www.apam-essonne.fr/posturologie>. Acesso em: 2 mar. 2015.

BRICOT, B. Posturologia Clínica. São Paulo: CIES Brasil, 2010.

CHAITOW, L. Osteopatia: Manipulação e estrutura do corpo. Editora Summus: Rio de Janeiro, ano.

INSTITUTO DOCUSSE DE OSTEOPATIA E TERAPIA MANUAL – IDOT. Apostila Estrutural. Presidente Prudente: Idot, 2011.

INSTITUTO DOCUSSE DE OSTEOPATIA E TERAPIA MANUAL – IDOT. Apostila Posturologia. Presidente Prudente: Idot, 2015.

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