Aparelho musculoesquelético como um sistema de saída: diagnóstico médico versus diagnóstico osteopático

Escrito por: Leonardo Lima, D.O

Introdução

Dores e patologias que envolvem o sistema musculoesquelético acometem grande parte da população, principalmente após a quarta década de vida. Nos últimos anos, aproximadamente 60{8ec6837f4d4c723f3ffbc53e0f9280463c3f97d684af52f5a27bd55996592354} da população dos EUA apresentou alguma dor na coluna vertebral, os custos anuais para o tratamento dessas afecções ultrapassam a casa dos 150 bilhões de dólares. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), os principais fatores que ocasionam tais sintomas e patologias decorrem do sedentarismo, obesidade, alterações posturais, entre outros.

A patologia mais incidente é a hérnia discal, acometendo tanto a coluna lombar quanto a cervical. Além disso, dores musculares, parestesias e ciáticas estão ligadas com as hérnias discais. Outras patologias, como a artrose, espondilolistese, síndrome facetária, escoliose, representam grande parte dos motivos de consultas médicas.

O tratamento para as dores e/ou patologias que envolvem o sistema musculoesquelético, sobretudo a coluna vertebral, varia desde o uso de medicamentos (analgésicos, anti-inflamatórios), Fisioterapia, Osteopatia, Acupuntura e, em alguns casos, o tratamento é cirúrgico. A maioria dos tratamentos citados (exceto a Osteopatia) acontece por meio de um diagnóstico voltado para as lesões teciduais representadas nos achados radiológicos, ressonância nuclear magnética ou tomografia computadorizada.

Portanto, discutiremos neste trabalho os critérios utilizados para o desenvolvimento do diagnóstico médico e o diagnóstico osteopático e, consequentemente, os tratamentos utilizados em ambas as situações, enfatizando a abordagem osteopática.

Diagnóstico médico e osteopático

A palavra diagnóstico tem como significado “conhecimento (efetivo ou em confirmação) sobre algo, proferido sobre a característica, a composição, o comportamento, a natureza, com base nos dados e/ou informações obtidos por meio de exame”.

Na Medicina, o diagnóstico é a parte da consulta médica, ou do atendimento médico, voltado à identificação de uma eventual doença, é analisado pelo profissional de saúde e sintetizado em uma ou mais doenças. A partir dessa síntese, é feito o planejamento para a eventual intervenção (o tratamento) e/ou uma previsão da evolução (prognóstico), baseados no quadro apresentado.

Portanto, o exame de imagem ou laboratorial está diretamente ligado ao diagnóstico médico e é determinante no tratamento que será realizado, seja por uso de medicamentos, ou em alguns casos cirúrgicos.


 

Os fatores que determinarão o diagnóstico osteopático não são obtidos por exames de imagens ou laboratoriais, que na maioria das vezes utilizamos para analisar possíveis patologias e, em alguns casos, contraindicar algumas técnicas osteopáticas, por exemplo: técnicas de alta velocidade nos casos de osteoporose.

A avaliação osteopática é construída por meio de uma anamnese bem detalhada, da história do paciente, inspeção, palpação, testes específicos e posteriormente o diagnóstico osteopático de qual/ais disfunções foram encontradas.

Segundo o criador da Osteopatia Andrew Taylor Still, uma disfunção osteopática é caracterizada como a perda de mobilidade unidirecional ou tridimensional de qualquer tecido conjuntivo, portanto, para obter um diagnóstico osteopático, deve-se “tocar” os tecidos em busca de mudanças na sua densidade e mobilidade.

As disfunções osteopáticas são traduzidas nos diversos tecidos como espasmos musculares, encurtamentos fasciais, perda de mobilidade artrocinemática vertebral, disfunções na motilidade de uma víscera, entre outras.

Sendo assim, o diagnóstico osteopático é obtido por um criterioso exame clínico, e os achados desse exame são ignorados por grande parte da classe médica, uma vez que as disfunções encontradas são invisíveis aos olhos de um exame estático, como uma radiografia ou ressonância nuclear magnética, que tem como maior objetivo encontrar lesões teciduais mensuráveis por tais exames. Na Osteopatia, acredita-se que as disfunções somadas às influências do meio ambiente ocasionam tais lesões estruturais.

Portanto, a filosofia osteopática enxerga as doenças, neste caso as que acometem o sistema musculoesquelético, como um produto final de uma série de disfunções (meio ambiente interno e externo), em que o corpo se adapta a cada uma delas. As adaptações do corpo trazem consigo um preço alto a pagar (básculas e rotações, encurtamentos fasciais, perda da mobilidade artrocinemática vertebral, posições viciosas estáticas, entre outras), que somadas ao meio ambiente se traduzem em doenças.

Explicaremos melhor as diferenças do diagnóstico médico e osteopático por meio dos casos clínicos a seguir.

Caso clínico 1

Paciente do sexo masculino, 43 anos. Empresário.

Queixa principal: dor na coluna lombar (localizada), os sintomas acentuam-se com os movimentos. O tratamento medicamentoso não amenizou as dores.

Diagnóstico médico: protrusão discal L4/L5.

Diagnóstico osteopático: disfunções articulares (sacroilíaca, OAA, lombar), disfunções miofasciais. De acordo com os achados clínicos, as disfunções musculoesqueléticas apresentaram-se relevantes para o tratamento através dos sinais transmitidos pelo corpo.

Tratamento: correção das disfunções encontradas.

Análise Estática (Plano Frontal) – Antes do Tratamento

Após a primeira sessão: após o intervalo de sete dias, o paciente retornou ao consultório praticamente sem os sintomas que o acompanhavam e apresentando melhora na ADM da coluna vertebral.

Caso clínico 2

Paciente do sexo masculino, 45 anos.

Queixa principal: dor na coluna lombar irradiada para o membro inferior direito, a dor existe há oito meses. Durante esse período, realizou tratamento com RPG, Acupuntura, porém não obteve sucesso.

Diagnóstico médico: hérnia discal L5/S1.

Diagnóstico osteopático: disfunções nos captores podal e ocular (plano escapular anterior, insuficiência de convergência no olho esquerdo), perna curta esquerda 8 mm.

Tratamento: correção das disfunções encontradas.

Análise Estática:

Retorno (30 dias): o paciente retornou ao consultório após 30 dias de reprogramação do sistema tônico postural. As dores na coluna lombar e membro inferior direito não estavam mais presentes, retornou às suas AVDs completamente.  

Caso clínico 3

Paciente do sexo masculino, 37 anos.

Queixa principal: dor na coluna lombar (aguda) localizada, a dor acentua com os movimentos do tronco (extensão e inclinação direita), Valsalva +.

Diagnóstico médico: protrusão discal L4/L5.

Diagnóstico osteopático: disfunção mobilidade/motilidade cólon sigmoide determinado por meio da avaliação, raiz do mesentério posteriormente (teste funcional).

Obs.: após o tratamento das disfunções viscerais, nas sessões subsequentes, o “corpo” nos convidou para outros tecidos e sistemas.

Resultados: após quatro sessões, os sintomas melhoraram significativamente. Segundo o paciente, a melhora foi de 90{8ec6837f4d4c723f3ffbc53e0f9280463c3f97d684af52f5a27bd55996592354}. Aumentou a ADM do tronco, Valsalva negativo. Estaticamente, a postura antálgica se desfez, devolvendo a simetria ao corpo.

Conclusão

Definitivamente, a filosofia osteopática contrasta com a Medicina, no que diz respeito aos fatores que formam as doenças, essa divergência consequentemente estende-se ao tratamento dos pacientes. De forma geral, a Medicina determina seu diagnóstico por meio de exames de imagens e laboratoriais, que visam avaliar os “danos” em diferentes tecidos. Dependendo do comprometimento da estrutura em questão, é dado nome do diagnóstico médico, por exemplo: tendinite do supraespinhal, artrose, espondilolistese, protrusão discal. O tratamento médico visa anestesiar os sintomas do paciente e, em algumas vezes, tratar as lesões teciduais, seja por uma artrodese, artroscopia ou até mesmo uma prótese.

Todavia, a Osteopatia acredita que as lesões teciduais são consequências de uma série de disfunções de parâmetro menor, gerando compensações (hipermobilidades), em que as patologias se instalarão. Sendo assim, olhar exclusivamente para a doença é em vão tentar tratá-la, é o mesmo que (metaforicamente) tentar corrigir uma tortuosidade do tronco de uma árvore amarrando-a em um palanque, sem entender os motivos que levaram a essa assimetria, muitas vezes pode ser fruto da busca pelo sol que estava a poucos centímetros dela, essencial para sua sobrevivência.

A Osteopatia nasceu de um médico americano (Dr. Andrew Taylor Still) em 1874, quando os recursos que Dr. Still tinha, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento, eram as mãos e sólidos conhecimentos de anatomia, fisiologia e biomecânica, precedidos pelos conceitos filosóficos que regem a Osteopatia, como a unidade do corpo, a autocura, a lei da artéria e a influência do meio ambiente interno e externo.

O criador da Osteopatia sofreu fortes influências do pai da Medicina, Hipócrates (1460-1375 a.C.), que pertencia a escola de Cós, na qual não se aceitava a fragmentação do indivíduo e evitava-se valorizar a doença em suas manifestações locais, em detrimento da compreensão do sujeito que adoece como um todo indivisível.

Portanto, nos dias atuais, de modo geral, a Medicina distanciou-se de suas origens hipocráticas, e mesmo com toda a evolução dos recursos de imagens, a Osteopatia mantém-se fiel aos conceitos filosóficos descritos por Dr. Andrew Taylor Still. “keep it pure, boys, keep it pure”.

Referências

CHAITOW, L. Osteopatia: manipulação e estrutura do corpo. 2. ed. São Paulo: Summus, 1990.

MAGEE, D. J. Avaliação musculoesquelética. 5. ed. São Paulo: Manole, 2010.

PORTO, C. C. Semiologia médica. 5. ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2005.

SIZINIO, H. Ortopedia e traumatologia: princípios e prática. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

SPERANZINI, M. B.; DEUTSCH, C. B.; YAGI, O. K. Manual de diagnóstico e tratamento para residente de cirurgia. Rio de Janeiro: Atheneu Editora, 2009.

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