Por Anna Lança, CEI
O “Homem” é constituído por um sistema nervoso, no qual podemos ter um olhar único. Um “Órgão” capaz de receber informações, transportar, interpretar, processar, produzir respostas e as conduzir para as células alvos (músculo estriado, músculo liso, vasos, vísceras e glândulas).
Podemos dividir didaticamente o “órgão” sistema nervoso em:
- Sistema Nervoso Central (SNC);
- Sistema Nervoso Periférico (SNP).
O SNC compreende o encéfalo e a medula espinhal, é aqui, que as mensagens são identificadas, processadas e as respostas são geradas. Já o SNP encontramos nervos e gânglios, responsáveis por levar informações dos órgãos “da periferia” até o SNC e deste para os órgãos, além de serem também através dos gânglios a primeira fonte de integração das informações.
O sistema nervoso periférico pode ser dividido em somático e autonômico.
O SNP somático é responsável por inervar os músculos estriados esqueléticos. O SNP autonômico responsável entre outras funções pelas respostas reflexas (de natureza automática), controla a musculatura lisa, músculo cardíaco e as glândulas exócrinas. Além disso o SNP autônomo eferente pode ainda ser dividido em simpático e parassimpático
De forma geral, o sistema nervoso simpático tem a tendência de aumento do metabolismo, exceto no sistema digestivo, já o sistema nervoso parassimpático tende a diminuição do metabolismo, exceto no sistema digestivo.
Este artigo tem como objetivo falarmos da influência do sistema nervoso no controle postural.
Lembramos que uma boa postura está associada a estabilidade e orientação com mínimo curto enérgico, os tecidos musculares, ligamentares, fasciais, articulares estarão livres de sobrecargas.
Já uma alteração postural pode levar sofrimento tecidual, forças anormais nas articulações, tecidos musculares, ligamentares, fasciais, osseos de tensão, compressão e cisalhamento, desprendendo de mais energia, alterando a estabilidade e orientação espacial.
O controle postural depende da interação das entradas sensoriais, a condução nervosa para os centros integradores e consequentemente uma resposta ao tônus muscular Para ocorrer este controle é preciso que as informações oriundas das entradas sensoriais, a rodovia de transporte dessas informações estejam livres (limpa), isso fará com que os centros processadores façam seu papel que interpreta, processa e libera substancias que serão conduzidas através do sistema nervoso como resposta para o tônus muscular. Se esse circuito estiver ocorrendo de forma harmoniosa, consequentemente teremos um bom controle postural para estabilidade em pé, para o processo cognitivo (aprendizado), esportivo (gestos), resultando em uma boa postura livre de compensações.
Em síntese, a postura depende:
- Percepção: que ocorre através dos receptores que se encontram nos filetes terminais dos axônios, sensíveis à estímulos mecânicos, luminosos, químicos, térmicos que são transformados em sinais elétricos (energia utilizada pelos nervos para realizar suas funções)
- Transporte: as correntes elétricas geradas nos receptores percorrem o axônio de forma que esses influxos elétricos cheguem aos centros processadores, desta forma, consideramos que as via axonais são verdadeiras “rodovias”, no qual podemos observar influxos elétricos que levam as informações dos receptores aos centros processadores e dos centros processadores às células alvos, permitindo um fluxo de ir e vir, fazendo uma analogia, de uma verdadeira rodovia de mãos duplas, daí o nome de “vias de comunicação neuronal”
- Centros processadores: São áreas de concentração de cabeças dos neurônios, onde encontramos as organelas celulares que produzem, transformam e liberam substâncias armazenadas nos nervos, consideradas como “usinas neurais”, é o lugar onde tudo é produzido, selecionado e processado. A parir das cabeças dos neurônios, temos múltiplos filetes denominados de dendritos (pequenos axônios que permitem a comunicação entre as cabeças neuronais e entre outros axônios (filetes terminais).
Nos exemplos a seguir, podemos verificar na prática os esquemas de controle postural vias pés e olhos com os elementos citados a cima.
Recepção: O controle postural exige oscilação postural constante e subconsciente para gerenciar o equilíbrio e alcançar a estabilidade postural. Estes movimentos regulatórios são baseados na informação plantar cutânea. Os receptores cutâneos plantares (Meissner, corpúsculos de Ruffini, Paccini, discos de Merkel e terminações nervosas livres) e proprioceptores musculares (fusos neuromusculares e órgãos tendíneos de golgi) captam as informações de pressão oriundas do solo e das oscilações, são reguladas por esses receptores.
As pressões/oscilações ativam esses receptores através de energia mecânica que serão transformadas em energia elétrica.
Condução/Processamento: o influxo gerado por esses receptores vão caminhar através do nervo tibial (axônio aferente) até os centros integradores (corno posterior da medula, núcleos no nível do tronco encefálico até homúnculo de Penfield).
Resposta: Os centros processadores conduzem resposta efetora para o controle motor postural
Um exemplo disso pode ser observado quando estamos em apuros, caindo, por exemplo. Os músculos plantares irão aumentar sua atividade, ou seja, para toda ameaça postural haverá um aumento da atividade muscular plantar. Esse feedback ocorrerá no nível cutâneo, através dos mecanorreceptores, e muscular, através dos proprioceptores.
Outro exemplo é do captor ocular, para podermos enxergar é preciso ter simultaneamente a energia luminosa e a energia mecânica. O sistema visual capta informações visuais através dos receptores luminosos conhecidos como cones (encontrados no centro da retina), e responsáveis pela visão em foco e nos bastonetes (encontrados na periferia da retina), responsáveis pela visão periférica. Ambas informações luminosas são captadas por estes receptores e levadas ao nervo óptico no qual é transformada a energia luminosa em energia elétrica que caminham aos centros processadores da visão. Ao mesmo tempo, os olhos precisam mover-se dentro das órbitas e para isso ocorrer, os receptores dos músculos extra-oculares são acionados através energia mecânica (fuso neuromuscular e terminações palisades) conduzidos (através da energia elétrica) pelos nervos oculomotores (III par craniano), troclear (IV par craneano ) e abducente (VI par craneano), aos centros integradores subcortical e cortical, produzindo uma resposta visual e tônicas para os músculos oculares, consequentemente para os músculos cervicais realizando simultaneamente o controle da cabeça e do pescoço e orientação espaço temporal.
Esses dois exemplos deixam claros que o controle postural depende da percepção (receptores), transporte (axônios aferentes) e processamento (núcleos e gânglios), transporte (axônios eferentes) e células alvos (tônus muscular)
Avaliação
É realizada a avaliação das entradas sensoriais e dos obstáculos posturais através de testes específicos e a avaliação da condução neural pelo teste informacional maleolar (TIM), no qual consiste em colocar em evidência a funcionalidade do transporte neural.
É sabido que o nervo poderá inervar o músculo, a articulação, o periósteo, os vasos sanguíneos, vísceras, fáscias e pele, portanto uma disfunção neural poderá repercutir em um ou vários destes tecidos.
Tratamento
O sistema nervoso possui receptores de estiramento e de pressão. O tratamento das vias de comunicação será dedicada atingir os receptores de pressão, que funcionam de forma similar a qualquer outro mecanorreceptor do nosso corpo.
A técnica realizada é a saturação neural que tem como finalidade saturar a capacidade de resposta dos receptores neurais (corpúsculo de Meissner e Paccini), no qual será colocado uma grande intensidade de estímulo (pressão com vibração) em muito pouco tempo, esperando como resposta a melhora da condução nervosa e consequentemente a redução do tônus muscular reacional.
Conclusão
Uma fisiologia harmoniosa de recepção, transporte e processamento são as “chaves” para um bom controle postural.
Para o tratamento postural, precisamos cuidar das entradas (áreas de recepção e percepção), cuidar também das “rodovias” (axônios), pois são elas que permitem o fluxo de ir e vir das informações aos centros processadores.
O tratamento neural postural é capaz de avaliar a eficácia ou não deste sistema, além de permitir uma atuação manual através de técnicas que tem como objetivo a normalização deste sistema, permitindo uma reorganização postural.